sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Fantasia e Coragem... e Ódio

Uma introdução à Mitologia Sentimental aqui e aqui.


Houve um tempo saudoso em que o Amor era o deus soberano, mas o Ódio teceu seus planos e tirou-o de seu lugar, que foi passado para o Bom-senso, que, então, perdeu seu posto para a rainha Fantasia devido a outras tramas do Ódio. A rainha fora criada pelo deus perverso e era controlada por ele. Por trás de livros românticos com vampiros brilhantes e péssimos cantores mórbidos ou coloridos inventados por ela, o Ódio ocultava seus atos.

O deus estava havia algum tempo sem executar grandes planos quando surgiu em sua cabeça sua ideia mais cruel. Ele precisava ir ter com o Amor.

Desde a concepção dos tempos, o Ódio vivia num templo a leste na Terra, num local terrível e tumultuado, chamado de Oriente Médio. Enquanto marchava em direção ao Amor, ele sorria e seduzia as pessoas. Era o deus mais charmoso, inteligente e persuasivo: o mais irresistível.

A viagem do Ódio ao santuário do Amor demorou um tempo considerável e virou uma notícia que se espalhou muito velozmente. O Primeiro Soberano ficou apreensivo com a vinda, pensou até em fugir. Esses não eram sentimentos comuns ao deus no Início. Ele se tornara medroso desde que o Bom-senso fora tirado do poder. Mas, nos tempos atuais, a Coragem estava por perto dele, e isso foi o que impediu sua fuga.

O Ódio chegou com um sorriso. A primeira década do vigésimo primeiro século se acabava, uma data marcante. O Amor não esperava que seu pior inimigo chegasse com uma expressão humilde — no entanto, o que o deus mais bondoso não sabia era que aquela era uma das faces do Ódio. A Coragem olhava desconfiada para o deus e até percebeu algumas mudanças suspeitas em seus olhos e seu sorriso, mas trouxe um chá com biscoitos para o visitante.

A conversa entre os deuses opostos foi agradável. Eles falaram sobre como uma grande guerra não acontecia havia tempos, sobre política, sobre cultura. No meio da conversa, porém, ouviu-se uma batida na porta. A Coragem não quis que o Amor interrompesse sua conveniente conversa e foi atender o recém-chegado. Sua boca caiu quando encontrou a bela rainha Fantasia. Estava tão atônito que não percebeu quando ela ergueu seu cetro e o tempo parou.

O Ódio sorriu mais uma vez, dessa vez de modo maléfico — sua primeira e mais sincera face. Planejara o ataque com a Fantasia, convencendo-a de que aquilo daria uma boa história para contar. Ele jogou o chá que a Coragem trouxera no chão; estava-lhe intragável. Ergueu-se, aproximou-se do Amor imobilizado e segurou sua cabeça. Espiou a Fantasia; ela observava lunática o santuário. Ótimo, pensou o deus, enquanto penetrava na mente repulsiva do Primeiro Soberano.

O deus perverso viu muitas imagens do Início. Não era o que queria, contudo, era o que mais passava pela cabeça do Amor. O Ódio desejava mais do que tudo o conhecimento. Ele sabia o que podia se passar pela mente de qualquer deus, entretanto, os humanos eram uma incógnita para ele. Seus planos mais perspicazes não seriam um sucesso se a Fantasia, o Desalento ou o Júbilo não estivessem intervindo por ele, mesmo que de modo inconsciente. E agora, usaria do Amor — o maior conhecedor dos seres humanos — para mais um de seus cruéis episódios.

Horas se passaram até que o Ódio encontrasse o que queria: como o Amor poderia afetar a mente de pré-adolescentes. Entre todos os esquemas do Ódio, havia algo em comum: ele almejava distrair suas vítimas desde jovens, quando seu caráter ainda estava sendo construído. Ele ouviu música ruim e repetitiva, do tipo que gruda na cabeça, viu letras pegajosas e mal formuladas que comoviam garotas de 11 anos. Olhou novamente para a Fantasia, como que dizendo que já fizera o que tinha a fazer. Ela se aproximou, pegou sua mão e os dois desapareceram quando o tempo voltou a incidir sobre a Terra.

A Fantasia ouviu encantada o que o Ódio encontrou na cabeça do Amor. Os dois passaram a noite maquinando como realizar um plano maravilhoso. O Ódio pensou que a maior parte da população da Terra era feminina. Deveriam obter um “moleque” atraente e manipulá-lo a fim de enlouquecer as garotas. A Fantasia encarregou-se dessa parte. Logo encontrou um jovem de 15 anos que não era muito alto, com cabelos castanhos e lisos, olhos que brilhavam, uma pele branca e que usava roupas invejáveis. A princípio, seria popular por sua franja e pela voz infantil, mas, com o tempo, mudaria para adaptar-se ao gosto das garotas. Sua aparência, de acordo com o Ódio, também afetaria os garotos, que tinham como maior fraqueza o sexo oposto; eles tentariam ficar parecidos com sua criação para agradar as meninas.

O Ódio lembrou-se de certos grupos compostos por cinco garotos de por volta de 20 anos chamados como boy bands. Eles faziam sucesso na década anterior. Seu garoto devia reproduzir o tipo de música cantado por eles. Aqueles grupos haviam dado início a um exército de ignorantes devotos e odiadores do Bom-senso conhecidos como “fãs”. Contudo, seu garoto, o garoto JB… ele mudaria o mundo pelo Ódio fazendo aquele exército se renovar e crescer.

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